Canta Onde Nada Existe
Canta Onde Nada Existe
Canta onde nada existe
O rouxinol para seu bem (?), Ouço-o, cismo, fico triste
E a minha tristeza também (?)
Janela aberta, para onde Campos de não haver são O onde a dríade se esconde Sem ser imaginação.
Quem me dera que a poesia Fosse mais do que a escrever ! Canta agora a cotovia
Sem se lembrar de viver...
Canta onde nada existe
O rouxinol para seu bem (?), Ouço-o, cismo, fico triste
E a minha tristeza também (?)
Janela aberta, para onde Campos de não haver são O onde a dríade se esconde Sem ser imaginação.
Quem me dera que a poesia Fosse mais do que a escrever ! Canta agora a cotovia
Sem se lembrar de viver...
Fernando Pessoa
Cansa ser, sentir dói, pensar destruir.
Cansa ser, sentir dói, pensar destruir.
Cansa ser, sentir dói, pensar destruir. Alheia a nós, em nós e fora,
Rui a hora, e tudo nela rui. Inutilmente a alma o chora.
De que serve ? O que é que tem que servir ? Pálido esboço leve
Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir... Vago sussurro breve.
Das pequenas vozes com que a manhã acorda, Da fútil promessa do dia,
Morta ao nascer, na 'sperança longínqua e absurda Em que a alma se fia.
Cansa ser, sentir dói, pensar destruir. Alheia a nós, em nós e fora,
Rui a hora, e tudo nela rui. Inutilmente a alma o chora.
De que serve ? O que é que tem que servir ? Pálido esboço leve
Do sol de inverno sobre meu leito a sorrir... Vago sussurro breve.
Das pequenas vozes com que a manhã acorda, Da fútil promessa do dia,
Morta ao nascer, na 'sperança longínqua e absurda Em que a alma se fia.
Fernando Pessoa
Cansado até os deuses que não são
Cansado até os deuses que não são
Cansado até os deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real
E na objetiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão.
Olho-a de mis, e o que ela é não sou eu. Entre mim e o que sou há a escuridão. Mas o que são isto a terra e o céu ?
Houvesse ao menos, visto que a verdade É falsa, qualquer coisa verdadeira
Cansado até os deuses que não são... Ideais, sonhos... Como o sol é real
E na objetiva coisa universal Não há o meu coração... Eu ergo a mão.
Olho-a de mis, e o que ela é não sou eu. Entre mim e o que sou há a escuridão. Mas o que são isto a terra e o céu ?
Houvesse ao menos, visto que a verdade É falsa, qualquer coisa verdadeira
Caminho a teu lado mudo
Caminho a teu lado mudo
Caminho a teu lado mudo Sentes-me, vês-me alheado ...
Perguntas: Sim... Não ... Não sei... Tenho saudades de tudo...
Até, porque está passado, Do próprio mal que passei.
Sim, hoje é um dia feliz. Será, não será, por certo Num princípio não sei que Há um sentido que me diz
Que isto — o céu longe e nós perto É só a sombra do que é ...
Caminho a teu lado mudo Sentes-me, vês-me alheado ...
Perguntas: Sim... Não ... Não sei... Tenho saudades de tudo...
Até, porque está passado, Do próprio mal que passei.
Sim, hoje é um dia feliz. Será, não será, por certo Num princípio não sei que Há um sentido que me diz
Que isto — o céu longe e nós perto É só a sombra do que é ...
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa, Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.
O que é a vida? O espaço é alguém pra mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó.
Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz
Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa, Substitui o calor.
P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.
Este luzir é melhor.
O que é a vida? O espaço é alguém pra mim.
Sonhando sou eu só.
A luzir, em quem não tem fim E, sem querer, tem dó.
Extensa, leve, inútil passageira, Ao roçar por mim traz
Cai chuva do céu cinzento
Cai chuva do céu cinzento
Cai chuva do céu cinzento Que não tem razão de ser.
Cai chuva do céu cinzento Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento Tem chuva nele a escorrer.
Tenho uma grande tristeza Acrescentada à que sinto.
Tenho uma grande tristeza Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa O quanto comigo minto.
Porque verdadeiramente Não sei se estou triste ou não, E a chuva cai levemente (Porque Verlaine consente) Dentro do meu coração.
Porque verdadeiramente Não sei se estou triste ou não, E a chuva cai levemente (Porque Verlaine consente) Dentro do meu coração.
Fernando Pessoa
Brincava a criança
Brincava a criança
Brincava a criança Com um carro de bois. Sentiu-se brincado
E disse, eu sou dois !
Há um brincar
E há outro a saber, Um vê-me a brincar E outro vê-me a ver.
Estou atrás de mim Mas se volto a cabeça Não era o que eu qu'ria A volta só é essa...
O outro menino
Não tem pés nem mãos Nem é pequenino
Não tem mãe ou irmãos.
Brincava a criança Com um carro de bois. Sentiu-se brincado
E disse, eu sou dois !
Há um brincar
E há outro a saber, Um vê-me a brincar E outro vê-me a ver.
Estou atrás de mim Mas se volto a cabeça Não era o que eu qu'ria A volta só é essa...
O outro menino
Não tem pés nem mãos Nem é pequenino
Não tem mãe ou irmãos.
Bóiam farrapos de sombra
Bóiam farrapos de sombra
Bóiam farrapos de sombra Em torno ao que não sei ser.
É todo um céu que se escombra Sem me o deixar entrever.
O mistério das alturas
Desfaz-se em ritmos sem forma Nas desregradas negruras Com que o ar se treva torna.
Mas em tudo isto, que faz O universo um ser desfeito,
Guardei, como a minha paz,
A 'sp'rana, que a dor me traz, Apertada contra o peito.
Bóiam farrapos de sombra Em torno ao que não sei ser.
É todo um céu que se escombra Sem me o deixar entrever.
O mistério das alturas
Desfaz-se em ritmos sem forma Nas desregradas negruras Com que o ar se treva torna.
Mas em tudo isto, que faz O universo um ser desfeito,
Guardei, como a minha paz,
A 'sp'rana, que a dor me traz, Apertada contra o peito.
Fernando Pessoa
Bem, hoje que estou só e posso ver
Bem, hoje que estou só e posso ver
Bem, hoje que estou só e posso ver Com o poder de ver do coração
Quanto não sou, quanto não posso ser, Quanto se o for, serei em vão,
Hoje, vou confessar, quero sentir-me Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me Por não ter procedido bem.
Falhei a tudo, mas sem galhardias, Nada fui, nada ousei e nada fiz,
Bem, hoje que estou só e posso ver Com o poder de ver do coração
Quanto não sou, quanto não posso ser, Quanto se o for, serei em vão,
Hoje, vou confessar, quero sentir-me Definitivamente ser ninguém,
E de mim mesmo, altivo, demitir-me Por não ter procedido bem.
Falhei a tudo, mas sem galhardias, Nada fui, nada ousei e nada fiz,
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